No início do século passado, quando se viajava apenas por água ou terra, o visionário Alberto Santos Dumont estava prestes a fazer uma das maiores descobertas da humanidade. Depois de várias tentativas, o inventor brasileiro desenvolveu em 1906 o primeiro avião do mundo: o biplano 14bis. Parte da estrutura desse invento era feita de bambu e despretensiosamente serviu de inspiração ao arquiteto colombiano Simón Velez.
Antes de adotar o material como principal elemento em sua arquitetura, o arquiteto “nascido em uma selva de bambu”, como ele mesmo diz, compartilhava do desprezo dos seus conterrâneos pelo material, que era considerado “a madeira dos pobres” devido, justamente, a sua maior qualidade: a abundância. A escolha pelo material veio quando o arquiteto começou a perceber suas diversas vantagens e questionar o uso de concreto e da madeira de maneira “predatória”. “A construção em concreto produzida nos países de terceiro mundo produz espaços cavernosos, com chão de pedra, paredes de pedra e teto de pedra. Esse modelo de arquitetura exagerada e pouco saudável se torna ‘carnívora’. A natureza exige que voltemos a um estado mais equilibrado, mais ‘vegetariano’…”, diz o arquiteto.
A espécie de bambu mais utilizada em suas construções é a Guadua angustifolia e cresce em abundância na região andina da Colômbia, principalmente no Triângulo do Café. Era usada desde os tempos pré-colombianos nas casas, mas até então não conseguia substituir materiais como ladrilho, aço e cimento. Seu problema de junção e sua resistência sempre foram motivos para dúvida, até que em 1999 foi colocada à prova no terremoto que atingiu o eixo cafeeiro, onde as casas com estrutura de bambu sobreviveram enquanto as construções de alvenaria foram ao chão.
Para Simón o bambu é um material arquitetonicamente mais ‘inteligente’ do que a madeira pois não concentra sua estrutura em seu eixo, já que é um elemento oco. Segundo o arquiteto, o bambu não leva vantagem apenas sobre a madeira, mas também sobre o aço na relação peso/resistência.
Recentemente, o arquiteto utilizou a técnica do bambu em projetos na China e continua difundindo as vantagens do material e defendendo seu uso. “Para construir uma casa grande seria necessário derrubar uma pequena floresta com 130 árvores que demoraram mais de 30 anos para se desenvolver. Com o bambu a história é diferente: como a planta brota rapidamente após o corte, à medida que a casa vai sendo construída uma nova planta já está nascendo. O bambu cresce em média 23cm por dia. Ao final da construção se tem um novo pé com 20 metros.”
No Brasil o interesse por esse material leve e resistente cresce cada vez mais. Dos 42 tipos de bambu existentes do mundo, 38 são espécies brasileiras, e mesmo algumas delas sendo de pequeno porte e crescendo no meio da floresta, ainda sim tem potencial de se tornarem alternativas viáveis.
O bambu é um material econômico, tem emissão zero de carbono e é muito competitivo em relação às madeiras, pois dá colheita o ano todo e jamais se esgota. Além disso, é considerado por muitos a matéria-prima deste milênio.
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